segunda-feira, maio 26, 2008

Um jeito pop de fazer o bem

Angelina Jolie usa o status de celebridade para chamar a atenção para causas humanitárias. Ela já visitou refugiados em 20 países, faz discursos na ONU e doou US$ 50 milhões para projetos sociais


Uma das dezenas de tatuagens que Angelina Jolie exibe traz um provérbio em latim: "Quod me nutrit me destruit" (O que me nutre me destrói). Ela se estende horizontalmente no ventre da atriz mais sensual de Hollywood e relembra a adolescência e o início da juventude da mulher cujos olhos verdes são capazes de obter tudo o que desejam de qualquer um - a observação é de uma ex-namorada dela, a atriz Jenny Shimizu. Aos 20 anos, Angelina queria ser vampira e colecionava facas. Aos 31, a ex-futura vampira parece buscar mais um Prêmio Nobel da Paz que sangue ou mesmo um Oscar. O provérbio gravado no corpo da musa parece não ter mais sentido, já que Angelina hoje se nutre de algo bem mais construtivo: a generosidade.

La Jolie costuma fazer declarações fortes, envolver-se com a tarefa humanitária e doar milhões de dólares nesses projetos. Mas, sobretudo, ela participa intensamente de cada uma das ações. Não terceiriza seu empenho. Em 2001, prometeu à ONU que doaria um terço de seus ganhos para ações em benefício das crianças refugiadas e imigrantes. Com 35 filmes em 25 anos de carreira e cobrando hoje um cachê médio de US$ 15 milhões por filme, calcula-se que ela tenha tirado do próprio bolso cerca de US$ 50 milhões em doações para creches, hospitais, campos de refugiados e operações de resgate em áreas de guerra.


Alguns exemplos:

Em setembro de 2002, Angelina doou US$ 100 mil para as agências de ajuda da ONU na África, para fornecer alimento aos refugiados. Em janeiro de 2003, esteve em Kosovo defendendo a minoria sérvia na região. Em 2005, seu ano mais intenso, Angelina deu mais de US$ 3 milhões à ONU para ajudar refugiados e anunciou a fundação do Centro Nacional para Crianças Refugiadas e Imigrantes, bancado por ela. Logo depois, encontrou-se com o presidente paquistanês, Pervez Musharraf, para discutir a situação dos milhões de refugiados afegãos no Paquistão. "Peço à comunidade internacional que faça um esforço maior para doar dinheiro e ajudar esta parte do mundo", disse. "Encontrei uma mulher carregando um bebê que estava embarcando em um caminhão. Não sei como ela vai sobreviver."

Em setembro, exortou o governo americano a socorrer as vítimas do furacão Katrina. Ainda em 2005, foi agraciada com o título de cidadã cambojana, que recebeu do rei Norodom Shihamoni depois de ter doado US$ 5 milhões para restaurar e reflorestar um sítio arqueológico em Battambang, próximo à casa que ela comprou em 2002 para morar com o filho. Em 13 de outubro de 2005, ganhou em Nova York o prêmio de Ação Humanitária Global da ONU. No fim de 2006, Angelina e Pitt depositaram US$ 100 mil na conta da Fundação Daniel Pearl, em memória ao repórter do Wall Street Journal decapitado por extremistas islâmicos em 2002.

Angelina criou em torno de si um círculo virtuoso que chama a atenção do mundo e faz com que seus colegas do meio artístico a sigam como exemplo de ação efetiva. Assim como mandou raspar a tatuagem com o nome do ex-marido, ela ainda pode se arrepender da frase em latim. Poderia modificar a última palavra para ficar assim: "Quod me nutrit me construit" (O que me nutre me constrói). A bad girl se converteu ao humanismo. "Quando eu era apenas atriz, não servia de nada a outras pessoas", diz. "Hoje, dizem que sou uma humanista. Não sei bem o que é isso, mas soa bem!" Com Angelina Jolie, a caridade se tornou um esporte radical.



Fonte: Revista Época
Imagens: J_O_L_I_E.BLOGGER